Uma moça chamada
Isabela Cardoso, que vivia na cidade de Gramado, no Rio Grande do
Sul, acompanhou o seu esposo para a cidade de Imperatriz no Maranhão.
Ao retornar para a sua cidade, depois de 1 ano e 8 meses morando em
terras maranhenses, ela escreve a sua impressão do local no Facebook:
"Finalmente
em casa, depois de 1 ano e 7 meses na SUSANO de Imperatriz eu e meu
esposo retornamos a nossa cidade. Estado pobre kkkkkkkkk. A cultura
maranhense é horrível, o carnaval é um lixo 'Tal
de bomba meu boi (sic), tambor de crioula'. A maioria das mulheres
são piriguetes e os Homens malandros. Mais da metade das
pessoas são semi-analfabetos (sic) #AmoMinhaCidade #Gramado
RS"
Por expor a sua opinião sobre o local, ela será
processada por “crime de ódio” contra o Maranhão e seu povo.
Seu marido foi mandado embora da empresa que trabalhava, a Suzano
Papel, e sua vida foi exposta ao ponto de estar sendo perseguida nas
redes sociais.
O que está em jogo nessa questão da Isabela dizer o que
pensa sobre o Maranhão não é a enunciação
de um comentário supostamente preconceituoso, mas sim a
criminalização da opinião, da qual posamos
concordar ou discordar. O mecanismo dessa criminalização
segue a lógica da “luta de classes”, onde o mais pobre é
invariavelmente explorado pelo mais rico. A moça por ser da
região sul, a mais rica do país, não tem o
direito de ter uma opinião adversa em relação ao
norte ou nordeste, principalmente do Maranhão, o Estado mais
pobre da Federação, pois se trata de preconceito contra
os mais pobres. Se não gostar nem do carnaval e da cultura
local, ou mesmo não sentir simpatia pelo povo, se trata de uma
“alienada” e “elitista” que deve ser publicamente punida.
Tambor de Crioula, tradição maranhense
Tal mentalidade tem se tornado um senso comum, incentivado pela
academia onde o “estudo dos oprimidos” tem sido dominante nas
humanidades. Tais estudos são de suma importância para o
entendimento mais amplo das sociedades diversas no decorrer do tempo
histórico, porém, a sua vulgarização,
feita principalmente por professores de História e Geografia
nas escolas de ensino básico (que no geral mal leem livros
além das xerox que tiveram que ler para as matérias de
seus cursos e do material didático para poder ministrar suas
aulas) por motivos ideológicos tem trazido efeitos colaterais
nocivos. Sem muita reflexão e estudo, graças à
essas ferramentas trazidas por esses professores, qualquer aluno
relapso de Ensino Fundamental consegue se achar as raízes dos
males do mundo. Em um binarismo desconcertante e tosco, divide-se o
mundo entre os opressores e oprimidos, sendo que esses últimos
são eternamente inocentes e possuem a verdade libertadora do
mundo. Nessa visão esquemática de mundo, consegue-se
pensar ser intelectual sem muito esforço ou analisar as
relações complexas que existem dentro de um sistema de
poder e dominação (nem todo sistema de poder
corresponde à dominação, como querem crer os
esquerdistas).
Agora, a condenação de opiniões negativas
referente à regiões do país não são
igualitárias. Falar mal de São Paulo e de seus
habitantes não costuma causar comoção. Pois como
é o Estado mais rico da Federação, com certeza
são os “opressores” e merecem toda a condenação
possível. O tumblr “Esses Paulistas...” reúnem
algumas referências nada lisonjeiras que fizeram à São
Paulo, como desejando que os paulistas morram de sede, acusando-os de
serem “escória” e lhes desejando a morte. Tais comentários
dirigidos aos paulistas, muito mais fortes e graves do que os feitos
por Isabela sobre os maranhenses, de acordo com a ótica dos
nossos campeões humanistas, não merecem repulsa alguma,
pois São Paulo, somente pelo fato de ser rico, é
naturalmente opressor, portanto, se trata de “justiça
social”. O processo contra Isabela marca a vitória da
criminalização da opinião não por uma
ditadura, mas por uma censura tácita do “politicamente
correto”, que por trás do seu discurso de defesa da
pluralidade, quer impor uma opinião, mentalidade e discurso
único, e o que foge disso, deve ser punido com exclusão
social. Nada mais autoritários do que aqueles que pregam a imposição do discurso da diversidade. Que a democracia seja salva dessa praga que a arruína
e a carcome sem ao menos percebermos.