*Por Tim Butcher
Numerosas inverdades tem persistido sobre Gravilo Princip, o homem que matou o arquiduque Francisco Ferdinando. Um deles foi usado pela Áustria-Hungria como base para sua declaração de guerra contra a Sérvia em 1914
Numerosas inverdades tem persistido sobre Gravilo Princip, o homem que matou o arquiduque Francisco Ferdinando. Um deles foi usado pela Áustria-Hungria como base para sua declaração de guerra contra a Sérvia em 1914
Assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando:
estopim para o início da guerra
Nenhum outro assassino, talvez se argumente, teve um maior impacto na
história mundial que Gravilo Princip, o terrorista que
desencadeou a 1ª Guerra Mundial ao matar o arquiduque Francisco
Ferdinando in Sarajevo em 28 de Julho de 1914. Mas eu também
sustentaria que nenhum outro assassino tem tido sua história
tão mutilada ao ser recontada.
Foi-nos dito pelos historiadores, alguns dos quais que publicaram no
período que antecedeu o centenário da 1ª Guerra
Mundial, que: Princip pulou no estribo da limusine do arquiduque para
lhe dar o tiro; que a esposa do arquiduque estava grávida
quando ela morreu no tiroteio; que o assassinato ocorreu no
aniversário de casamento dos arquiduques; que o carro não
tinha marcha-ré, então, era incapaz de corrigir o erro
do motorista que facilitou a ação do assassino; o
arquiduque corajosamente pegou a granada atirada anteriormente no
casal e jogou-a longe com indiferença; e Princip parou de
comer um sanduíche em um café de esquina antes de
aparecer para dar o tiro.
Todos esses detalhes e muitos outros publicados durante o último
século são inverdades fantasiosas, superficiais e sem
sentido. Talvez Napoleão estivesse certo quando observou que a
história não é nada além das mentiras que
não são mais disputadas. O mais escandaloso erro é
a famosa foto que intenciona mostrar Princip sendo empurrado pela
guarda austro-húngara momentos após o ataque.
Gravilo Princip: assassino dos herdeiros do
trono da Áustria-Hungria
Tem sido usado ad nauseam por anos e, triste de ver, ilustra a
capa de uma nova História de Cambridge da crise de Julho. O
problema é que ela não mostra Princip. Ela mostra outro
homem, um espectador inocente chamado Ferdinand Behr, sendo levado
para interrogatório. Quando Behr escreveu uma declaração
em 1935, que as contemporâneas autoridades do Wikipedia fariam
bem em ler, ele estava sempre surpreso pela trapalhada, pois ele
tinha mais de 1,82 metros, e tinha corpo forte, difícil de
confundir com o muito mais magro e baixo Princip.
É justo dizer que Princip, um filho de camponês da parte
mais remota da Herzegóvina, nasceu em um período que a
Bósnia-Herzegóvina era uma parte distante do império
Austro-Húngaro, não é o mais fácil
personagem histórico de se estudar. Eu gastei os últimos
três anos pesquisando-o e descobri que mesmo sua data de
nascimento era difícil de se estabelecer. As autoridades da
Igreja em Obljaj, a pobre e suja aldeia em que ele nasceu, escreveu
nos registros paroquiais 13 de Julho de 1894. Eles, como a família
de Princip, eram cristãos ortodoxos, uma identidade que, no
vernacular da classificação étnica moderna, os
torna bósnios sérvios, e eles escreviam em cirílico.
Um segundo registro, dessa vez feita pelas autoridades municipais,
mais confortáveis com a escrita latina dos ocupantes
Habsburgo, escreveram 13 de Junho de 1894. Para um leitor que não
lê cirílico, Julho e Junho são facilmente
confundíveis.
A diferença não era de grande significado até o
assassinato. Princip, preso dentro de segundos, poderia somente
encarar a sentença de morte dentro da lei Austro-Húngara
se ele tivesse 20 anos ou mais. Se seu aniversário fosse em
Julho, ele não encararia nada mais grave do que a cadeia. Se
no início de Junho, poderia ser enforcado.
Velório do arquiduque Francisco Ferdinando e de
sua esposa, arquiduquesa Sofia
Com as melhores mentes legais do período disponíveis
focando a questão, todas as vias foram exploradas. Eu achei,
em um arquivo mal preservado no Arquivo Nacional em Sarajevo, um
pedaço de papel com cálculos convertendo as datas do
calendário Juliano, que era rotineiramente usado pelos sérvios
locais e que possuía duas semanas de diferença do
calendário Gregoriano.
Os promotores Habsburgos queriam ter certeza que o acusado não
escapasse da pena de morte, se ele realmente tivesse 20 anos no dia
do tiro. No fim, uma data de nascimento de 13 de Julho de 1894 foi
aceita pela corte e Princip foi preso por 20 anos. Ele morreu na
prisão de tuberculose óssea em Abril de 1918, uns
poucos meses antes do fim da guerra que suas ações
precipitaram.
Então, pesquisando os arquivos de Viena, Sarajevo, Belgrado e
Istambul, cada detalhe sobre Princip tinha que ser manuseado com
cuidado. Incrivelmente, eu achei itens perdido por outros: gravite
deixado por Princip em 1909, sua aparição no censo
Habsburgo de 1910 e, o mais excitante para mim, seus registros da
escola secundária. Ele não era obstinado, mas reflexivo
em seu lento e deliberado caminhar em direção ao
radicalismo. Esperto, acadêmico e disciplinado, os registros o
mostram saindo fora dos trilhos e nas mãos dos
revolucionários.
Arquiduque Francisco Ferdinando e
arquiduquesa Sofia
A mais importante descoberta histórica foi que não
havia evidência para apoiar a acusação de Viena
que Princip era um agente da Sérvia, as bases dadas em Julho
de 1914 par aa declaração de guerra por parte da
Áustria-Hungria à sua pequena e turbulenta vizinha.
Isso foi o ato estratégico chave que arrastou as grandes
potências para quatro anos de carnificina nas trincheiras, um
multiplicador que tornou um assassinato localizado nos Bálcãs
em um conflito global.
Ainda não restam bases confiáveis nos registros
históricos para justificar as acusações de
Viena. Princip passou uns poucos meses em Belgrado, capital da
Sérvia, e lá ele encontrou nacionalistas extremistas,
que o ajudaram a se armar e o mandaram de volta para Sarajevo de
forma clandestina. Disso não se segue que esses extremistas
eram apoiados, autorizados ou mesmo conhecidos pelo governo sérvio.
O ataque de Viena à Sérvia tinha tanta legitimidade
quanto uma declaração de guerra pela Inglaterra à
Irlanda em retalhação ao assassinato de Louis
Mountbatten em 1979 por nacionalistas irlandeses. A melhor evidência
nos registros mostram Princip não com um nacionalista sérvio,
mas como um nacionalista eslavo, comprometido em libertar todos os
locais, conhecido como Eslavos do Sul, sejam eles croatas,
muçulmanos, eslovenos ou sérvios, então, sob o
controle de um ocupante estrangeiro, a Áustria.
Isso é uma diferença importante que mina completamente
a posição dos falcões de Viena de que um ataque
em Belgrado fosse uma retalhação justificada por um
complô sérvio para matar o arquiduque. Ainda, somente
com uma fotografia incorreta da prisão, historiadores tem
frequentemente repetido essa acusação infundada para
retratar Princip como um agente de Belgrado.
Francisco José: imperador da Áustria-Hungria
que governou de 1848 à 1916
Wilfred Owen escreveu sobre a invocação patriótica
dulce et decorum est pro patria mori como “a velha
mentira”, mas eu vejo uma mentira ainda maior que desencadeou a 1ª
Guerra Mundial. É a mentira usada por Viena em sua deliberada
deturpação do assassinato de Sarajevo e seu papel no
mais incompreendido assassinato da história.
Tim
Butcher é o autor do The
Trigger: Hunting the Assassin who Brought the World to War,
publicado por Chatto &
Windus
Artigo traduzido do revista History Today
achei itens perdidoS por outros
ResponderExcluirgravite: grafite?
retalhação: retaliação
Pode apagar este comentário.
Não apagarei, Marcelo, obrigado pelas correções :)
ExcluirAssim como a rainha louca da Inglaterra queria a morte de Dayna e conseguiu.Assim tambem é esta Historia,onde o soberano odiava ferdinando e sua esposa....armaram tudo e os mandaram para morrer.
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